Por Camilla Goes
A publicidade processual é uma das vigas mestras do Estado Democrático de Direito, prevista no art. 5º, inciso LX, da Constituição Federal. Sua função é garantir a transparência da atividade jurisdicional e o controle social sobre o Poder Judiciário. No entanto, a realidade dos processos digitais tem revelado uma face preocupante dessa publicidade irrestrita: o aumento expressivo de fraudes e golpes que exploram dados obrigatoriamente constantes nos autos.
Um dos exemplos mais emblemáticos é o chamado “golpe do falso advogado”, no qual criminosos acessam informações públicas dos processos — como procurações, decisões judiciais e dados bancários — e se fazem passar por advogados das partes, obtendo vantagens ilícitas.
De acordo com pesquisa divulgada pelo Instituto DataSenado em outubro de 2024, 24% da população brasileira com mais de 16 anos já foi vítima de golpes digitais nos últimos doze meses. Isso representa mais de 40 milhões de pessoas.
A preocupação institucional é crescente. A OAB Nacional já se manifestou sobre o tema, solicitando providências ao Ministério da Justiça para combater o uso indevido de informações públicas dos sistemas judiciais, sobretudo contra advogados e seus clientes .
Além disso, o Tribunal de Justiça de São Paulo reconheceu recentemente o direito de indenização por danos morais em caso de fraude cometida com uso de dados processuais, reforçando a responsabilidade pela proteção da informação constante nos autos.
Esse cenário nos leva a refletir: seria hora de relativizar o princípio da publicidade processual para garantir a proteção dos dados e da dignidade das partes?
Não se trata de defender a opacidade dos processos, mas sim de admitir que a transparência absoluta e irrestrita, sem critérios de proteção, pode fragilizar direitos fundamentais, como a segurança jurídica, a privacidade e a proteção de dados — também assegurados pela Constituição e pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Propostas possíveis incluem:
• Publicidade qualificada, com acesso condicionado a autenticação e necessidade legítima;
• Anonimização de dados sensíveis nos autos;
• Normatização da exposição pública de documentos como procurações e substabelecimentos, limitando dados bancários e pessoais.
O Poder Judiciário e os órgãos de representação da advocacia precisam enfrentar esse desafio com pragmatismo e celeridade. A evolução tecnológica exige que revisemos os paradigmas clássicos para garantir que o sistema de justiça continue sendo instrumento de proteção — e não de risco — aos cidadãos.
Em tempos de engenharia social, inteligência artificial e fraudes cada vez mais sofisticadas, é imperativo que a publicidade processual caminhe lado a lado com a segurança da informação e a preservação da confiança no Judiciário.
Por: Camilla Góes, Sócia-Diretora.
Sócia-Diretora
Sou advogada, sócia do escritório Imaculada Gordiano, entusiasta da inovação jurídica e do aperfeiçoamento das relações humanas em prol do progresso coletivo, inclusivo e seguro. Ao longo de mais de 10 anos de advocacia, pude participar de grandes estruturações de negócios, metodologias de conformidade legal, gestão de crises e resolução de disputas comerciais no setor da saúde, aperfeiçoando minhas habilidades de mediação e negociação, sempre com foco na solução menos onerosa, íntegra e confiável.
Tenho muito orgulho de advogar para reconhecidas empresa médicas e hospitalares, que me confiam a criação de teses jurídicas vitoriosas e que são capazes de elevar suas participações no setor da saúde. Influenciada por grandes lideranças femininas, sempre assumi papel de protagonismo na condução de minha vida profissional, aprofundando meus conhecimentos jurídicos e de gestão corporativa para fomentar as inovações necessárias para as boas práticas empresariais.
Tudo isso aliado à paixão pelo Direito, que me levou a diferentes especializações e capacitações na área da saúde, desde o direito médico a gestão de riscos em ambientes hospitalares. No escritório, pude ainda desenvolver diferentes projetos que se transformaram em produtos e hoje são valores inegociáveis, como a diversidade e a sustentabilidade. E vamos para cada vez mais!